O século estava velho e
resolveu reunir toda a sua descendência.
Ia ser uma grande festa.
Convidaria os anos e os meses. Estes por sua vez convidavam as semanas e as
horas que andam sempre metidas nos dias. Os minutos e os segundos, sempre cravados
no relógio também foram convidados, porque esses afastados descendentes da
imensidão dum século são tão importantes que frequentemente se perdem vidas
inteiras dentro deles.
A emoção começou a
fervilhar, por detrás do século, já velho, mas de olhos a brilhar.
Pensou, voltou a pensar e lá arranjou uma forma estranha de todos juntar.
Década
Uma década é um pacote!
Um pacote de dez rolos de papel. Convidou dez anos e assim a década estará
presente nas danças e contratempos.
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Ano
O ano é longo, logo pode
ser um rolo de papel inteirinho, ou uma estrada de duas faixas. Não! As
estradas não têm fim! Convocou o rolo de papel, enrolado ou não, se falta não
tem perdão.
Meses
Os meses são doze. Não
são todos iguais, mas quando acaba um
começa logo outro. E antes, já tinha lá estado outro. Janeiro, fevereiro e março,
frios. Abril, maio e junho começa a aquecer. Em julho, agosto e setembro parece
que nunca arrefece. Outubro o século faz anos. Novembro e dezembro é sempre a
esfriar.
E decidiu. Um porta-lápis
com material roído na ponta pela pressa do intervalo. Não interessa a cor, só o
tamanho.
O século pôs-se de novo a
pensar; já tinha os dez rolos de papel e o porta-lápis convidados, faltavam os
dias que não dispensam as horas, os minutos e os segundos.
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Procurou inspiração para
representar os restantes convidados. É que o tempo é algo complicado. Todos os
homens, quando são novos, o desprezam de tal forma que fingem que não existe,
assim, o século justifica-se num suspiro de sabedoria:
- Eu, o século, vejo
poucos homens aguentarem comigo quando passo por eles. Não o faço por mal, mas
porque é assim!
Dias e horas
Os dias ficam um livro e
as horas podem ser as folhas.
Minutos
O minuto é um berlinde,
porque rola com tanta facilidade que nem o vejo.
Segundos
Ficaram a restar os
segundos. O século pensou em muitas coisas pequeninas e descobriu o bagulho.
Isso mesmo! Uma pequena semente de qualquer vida, depois de a lançar na terra
dá sempre qualquer coisa, tal e qual o segundo.
Com tudo convidado o
século começou a recapitular: Vejamos: O pacote com dez rolos que é a década e
o porta-lápis que são os meses. Depois o livro do dia. E a seguir
convidei...convidei... O que é que vem a seguir? Século que sou eu, décadas,
anos, meses, dias, minutos e segundos. Já está! Mas eram seis! Dez rolos, doze
lápis, um livro, o berlinde - que nunca me esquece - e o bagulho. Um, dois,
três, quatro, cinco. Mas eram seis! Um, dois, três, quatro, cinco. Falta um! As
folhas! É isso! As horas têm de ir!
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Eu não fui a essa festa,
porque não sou tempo, mas mesmo que fosse não via ninguém. Não via ninguém
porque o tempo vê, embora esteja sempre muito bem enlaçado com o presente.
Qualquer momento dessa festa é igual a este, ao anterior e ainda ao que virá a
seguir.
O certo é que o tempo
está todo aqui! Não sei se em festa ou não, mas neste preciso “bagulho”
(segundo) que me lês, nem tu nem eu sabemos, quantos “berlindes” (minutos) vão
rolar antes deste “livro”(dia) acabar.
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