É estranho quando se vive
numa transição de gerações tão díspares. Sem querer ficamos atulhados em antinomias comportamentais.
Hoje, no cabeleireiro,
reparei nas seis senhoras que, com perseverança,
tentavam despertar o prazer da sua admiração nos outros.
Saí daquele antro de vaidade todo desgrenhado. Paguei para esfarraparem
o meu cabelo. Faço-o sem más intenções, não é meu intuito ferir ninguém, mas
está na moda e gosto de ser vanguardista.
Reparei como é agradável,
no século XXI, esta liberalização tão ousada. Hodierno, uma mulher de família vai ao cabeleireiro, com os
filhos na carteira para deleite do mundo e um anel reluzindo um curioso
repelente masculino, para fazer todas aquelas coisas que apesar de singelas dão graça ao que é belo,
mesmo que se mantenham as saias grossas em cintas subidas.
Eu aprovo, tenho é penha
que não sejam mais arrojadas.
Não deixo, no entanto, de rir baixinho ao reparar nesta drástica mudança de
valores. Deixa-se de caluniar de "mulher pública" quem pinta unhas,
cabelo e lábios e aceita-se após trinta anos a dar a comunhão em plena
cerimónia religiosa. Compreendo esta atitude, a vida é mudança, mas porque veem
só a mudança deles e não aceitam a dos outros?
Olham para o que digo,
penso e faço e longe de perceberem o meu comportamento arranjam explicações
dentro do seu mundo pequeno, mas considerado imenso.
Percebo que o façam, mas
não admito que, à falta de abertura de alguém, me qualifiquem com a pouca
bagagem têm atribuindo-me sabonete quando uso champô com um aroma ainda
desconhecido.
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