Esgoto-me em discursos
violentos, exames minuciosos e disparates consistentes. Não que queira
encontrar o motivo, mas ele apareceu enquanto puerilmente olhava o movimento de nuvens banhadas pelo sol de
fim de tarde.
O raciocínio veio,
suavemente como se ali não estivesse. O meu inconsciente utiliza-o como bandeja
para me oferecer alimento. Não estava com fome, ando bastante aconchegado por
dentro, mas o seu cheiro agradou-me e mastiguei-o com muito agrado.
Olho de novo as nuvens,
outras por certo, que continuam a correr na mesma direção. Sou um desvairado, esqueci
o que aprendi e tento recuperá-lo, embora sem persistência, pois daqui já não
sai. Pensamentos destes têm ventosas e tentáculos com vida própria.
Abro o vácuo do desejo,
tiro a goma da astúcia e com o escopro do meu querer cravo tudo na rocha do meu
saber.
O motivo, o motivo de
tanto alarido? Os motivos são fortes, movem qualquer coisa e são tão díspares
como as faces humanas.
Mato a sede deste texto, com
um crivo nas palavras, não para ludibriar os outros, mas para me esconder dos
preconceitos do mundo.
Um truque que denigre a
sinceridade humana, consiste em disfarçar para fora o que se sente cá dentro.
Uns escrevem como um sonho, outros criam personagens menos nobres ou então registam
pensamentos e logo afirmam ser um sonho ou uma divagação sem sentido.
Acontece, quando olhando
a balança da moralidade pretendemos soltar coisas nossas para o papel. Pesamos
o nosso sentir, com uma censura ditatorial, sempre com medo de magoar os outros
ou perdê-los por falta de coerência social.
Foi uma nuvem que me
disse. não fui eu que pensei. Ela gritou alto e toda a gente ouviu naquela
praça.
Ri, enquanto olhava para
o indicador dos transeuntes, porque não é nada disso. Não sei onde ela foi
buscar tamanho desvaire.
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