Num dia de sol, saio à
rua sem vontade. Um zéfiro ar
tocava todo o meu princípio imaterial e ao ver pessoas preocupadas com a parte singelas da vida, acordei a intriga
para saber o porquê desta faculdade de sentir.
Estou só no café, a ouvir
a chuva que cai e a deleitar-me com a estrelinha que tenho em contraponto com a
água que bate e escorrega pelas descidas íngremes
da cidade entristecida.
Algo surge e se for nefasto o corpo humano cria um
invólucro protetor, uma crosta resistente disfarçada pelo corpo em qualquer
lugar, de modo a nele permanecer sem nunca o prejudicar. É uma questão
biológica e muito interessante de analisar.
Tenho algumas dessas
cápsulas, não físicas, porque sou muito novo e cuido de mim, mas das outras
mais resistentes, invisíveis para os olhos e sentidos dos outros. Invólucros emocionais
que guardo na prateleira que arquitetei no meu peito. Quando o tempo sobeja,
olho o éter à volta e escolho com sensatez qual a emoção a despertar. Desfruto de
todas e quando chega o desapego enrolo-as em papel de veludo e coloco-as na
estante. Por vezes incomodam, mas se for em demasia lanço-os na fornalha que
existe na Serra da Estrela, no sanatório das trezentas e sessenta e seis
janelas, que tem tudo menos insanidade.
Longe do arrependimento
assumo todas as minhas ações, apesar de não ter aquela consciência generalizada
que se fundamenta em princípios étnicos
do local onde nascemos, esquecendo que o mundo, apesar de ser redondo, pode-se
abrir ficando mais acessível à compreensão.
Não gosto do globo, ele
mostra apenas uma parte do mundo. Um mundo imenso, mas pequeno para as minhas
ambições.
Não pretendo ser
astronauta, mas questiono se em alguma dos milhares de estrelas que vejo, não
há seres que amam, contemplam e choram como nós. Que sentem o cheiro do suor,
esperma e sangue. Que sorriem ao ver o nada que baçamente se intromete entre
duas pessoas que se querem.
Tudo são sonhos para além
da realidade. Não procuro nos astros o que aqui mesmo está oferecido sem
cansaço nem gastos de aquisição.
Vou parar. Acho que
basta, mas as ideias continuam impulsionadas pela inspiração de escrever. Não
consigo fechar a gaveta das prosas
que sem querer me afloram no espírito, objetivando a tua aprovação ou
comentário.
Também escrevo porque me
dá prazer e liberta. São ideias registadas ficam consistentes na forma
material. E ao saber que se leem, que não são jogadas fora, escrevo-as e releio-as
como se os meus olhos fossem os teus e ligassem princípios de vida, sentindo o
que o outro sente.
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