Num bosque de fábulas e
mitologias apareceu um dia um mágico, que ao toque singelo do seu caduceu
ergueu um solar com terraços ladrilhados e paisagísticos vitrais.
À noitinha, as estrelas
entravam pelas janelas sobrepondo-se ao veludo daqueles cortinados exuberantes.
Esta mansão, com todo o
seu potencial, compreendia a importância do dia e da noite e tudo indicava um
futuro próspero.
Atraídos pela ternura da
sua idade, apareceram amigos, conhecidos e interessados que pouco a pouco
plantaram flores, trepadeiras e enterraram muitos bolbos, uns sempre mais
profundos que outros.
De início a casa não
encontrou necessidade de tanta escavação, mas permitiu estes enfeites ao ouvir
os anunciantes convictos das suas importantes propriedades terapêuticas.
Não durou muito tempo
para a casa começar a perder a noção do dia e da noite. A confusão acomodou-se,
com direitos e sem deveres, nos melhores aposentos de tal mansão.
Havia tantas ervas!
Grandes, pequenas, umas emprestadas outras compradas, a pronto ou a crédito,
que era impossível admirar as suas cores e compreender a relação entre os seus
cheiros. Mas elas lá iam crescendo, alimentando-se constantemente umas das
outras.
A mansão, de início, não
reparou no vigor de tais ervas. Riu-se quando plantaram a erva da humildade e
da sujeição.
A semente da sinceridade
parecia vigorosa, mas a casa nunca viu a sua beleza, no meio daquele ar denso
com tanta folhagem eriçada. Queria olhá-la e pressentir o seu cheiro. Não faz
sentido viver sem ela! Mas era tarde. O seu pensar despertou a indolência e já
não via com clareza.
Antes de adormecer
reparou que devia de ter cuidado com todas as ofertas de ervas enaltecidas, em
especial quando a tristeza no olhar dos homens não coincide com a entoação
eufórica da sua apregoação.
O sol estava de partida
e, naturalmente, surgiu a submissão, vaporizada com um pouco de austeridade. Foi aí que compreendeu
que as casas nunca perceberam nada de jardinagem.
Fechou as janelas, correu
os cortinados e deixou-se adormecer, como nunca foi seu costume, sobre ela
própria e desabou.
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