Há pouco, encontrava-me num momento que já
me estava a fartar. Um minuto daqui e outro dali projectavam dentro de mim
lembranças antigas de como antes ansiava o dia todo encontrar três amigos do
bugalho e juntos sujarmos os joelhos ainda em formação. Agachado em frente a
três buracos no solo duro via o mundo como se a felicidade consistisse em
ganhar um bolso cheio de bugalhos. Havia dias que nem dormia com um pensar de
insónia igual aos dos grandes consumidores de barbitúricos. Mais tarde comecei
a querer outras coisas, coisas mais reais e de maior interesse.
Estava sentado, a tentar desfrutar do que
fazia e no entanto estava irritado sem saber o que queria. Foi aí que me deu um
vaipe e percebi, sem fazer caso disso, que aquilo já estava sem vida e eu não
queria reparar nisso. Lembrei-me dos berlindes, das roupas e sapatilhas que
outrora me levantavam num impulso de amante. Pensei nos computadores, aparelhos
de som e profundos amores que alentaram a minha vida. Crescem cá dentro e vão
sem a minha autorização.
Pois agora é diferente, assobio se me
apetece, contemplo se me agrada e ponho o lixo todos os dias. Não quero ficar
colado a gostos que já não saboreio e tão pouco me importa o paladar dos
outros. Ninguém censura um jogador de bugalho de cem centímetros nem critica um
velho incapaz por usar bengala. Ninguém o faz não e se o fizer é porque
continua sentado no mesmo banco que eu também já estive.
25 de Maio de 2004, Covilhã, “Leões da
Floresta”, 17:03 horas
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