Não consigo olhar a tua face e permanecer
rígido nas suas órbitas. As influências decretadas pelo Cupido continuam
encarapuçadas nos desejos de mais azul-celeste. Nem o teu reflexo na janela
aguento e, desligado do mundo, cerro-me nestas letras que custam a deslizar.
Olho o éter à volta e disfarço a ânsia de percorrer os teus traços faciais que
inertes sugam toda a minha atenção.
Estás prestes a sair deste balancé da CP e
para garantir a minha devoção desenrolo a tampa do bico, dobro os dedos a
direito e continuo a sacudir a vergonha de te enfrentar.
Estás aí e eu aqui, e mesmo que troque de
lugar contigo continuarei sempre sem ti. Quero que o meu corpo te siga e que
não saias pela porta, séria com os braços no sítio e os lábios secos pela falta
de beijos. A noite esvazia-me e a vida leva-te para a casa do teu quarto.
Serras por afiar, palavras por dizer, pratos partidos, beijos frios e pasta de
dentes gasta na escova ramificada.
Estou aqui, não me vês debruçado e um tanto
disfarçado de homem indiferente à beleza?
Com os olhos vermelhos pelo peso do dia
preparo-me para partir contigo com o frio na ilharga.
Ainda não sais? Estarreja. Vinte horas e
oito minutos e a inquietação permanece para saber por onde anda a tua face
séria. Por dentro, interessa-me mais dentro. Saber como se liga ao teu plexo e
como gere a parte humana da mulher.
Gostavas de saber o que escrevo? Queres
sentir o desejo para que o sono hoje custeie o preço do teu dia, este que
saltei da cama às cinco e as vinte horas e treze minutos ainda me obrigam a
olhar-te sereno num raio de apenas dois metros. Parece que os sentimentos se movem
de novo no meu mundo que anda ateatrado pelas piadas das velhas nas salas de
fumadores.
Vamos todos para Aveiro. Todos os dedos
deste invólucro móvel que nos brinda com o odor húmido da ria que abarca tudo.
2006, fevereiro, 22, 20:19:38 h, Comboio para
em Ovar
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