Oscilo com as vicissitudes de suporte que
me empurraram indefeso contra as paredes escabrosas que por mim resvalam.
Ora aqui está, fidalgo escritor, um embate
solitário contra a mais desconhecida natureza humana. Pensavas que só aos
outros pertenciam os desalentos desta existência? Que a água inunda novas casas
e não a tua? Protegido? Protegido com que motivo? Porque mereceres o isolamento
da obtusidade da estirpe humana?
Estou de rastos e a extenuar por dentro. O
estômago exibe uma existência insalubre e o sistema nervoso não sabe de mim.
Não controla o bico dos dedos quando estão frios nem as rótulas dos joelhos
quando me refastelo cansado e também não apoia o alçar dos pulmões quando estou
desanimado.
Elevo o plexo ouvindo as notícias num café
vazio. Só, elaboro o inventário deste pérfido espectro fazendo-me acompanhar de
uma prova irrefutável desta vivência.
Com este texto obsoleto desmancho o enredo
que me transtorna por completo.
É doloroso passar por tanta coisa só,
sempre atrasado a ver os outros a ultrapassar em contra mão. Acredito no Homem
de letra grande, não será por andar a embater em vidas estranhas que o hei-de
escurecer com as cores das minhas letras.
Quando chorar recuso-me a fazê-lo com canetas
porque as lágrimas estragam os bons livros e os leitores gostam de os ter
direitinhos numa estante de cerejeira.
Fecho isto antes de vos molhar com
caprichos iluminados por um dia que nasceu.
Segunda-feira, 29 de novembro de 2004,
20:17:57 h, Café Santa Maria, Covilhã
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