Outono solarengo. Quinze horas e oito
minutos. Sentada numa cadeira, com um ambiente de fazer notar todas as moscas
de asas pouco oleadas, a professora nem se sente, embora se queira fazer ouvir.
As vinte páginas de um livro traduzido para
brasileiro servem de suporte para uma tarde que se avizinha problemática. A sua
leitura enfraquece os catorze corpos em digestão permanente e como uma casa de
sesta antiga, o silêncio entorpece os quinze estômagos cheios. Os sons das
folhas dadas a ler no século XXI criam um egrégio ar que sacode toda a
pedagogia circundante.
Leiam! Que os nossos olhos rolem pelas
oitocentas linhas que a mestra nos pôs à frente. Assimilem o autor, narcotizem
o espírito e sigam os trilhos do pastor.
O enfado continua. Refilo e a falta de bom
senso manda-me calar, como se tivesse direito a tal. Se nada há a fazer, porque
meneia os lábios para me contradizer?
A calma está entornada ao amordaçarem os
meus movimentos cerebrais. Sigam! Sigam os trilhos do pastor para mais tarde
demonstrar como se abre caminho nas encostas bravias da Serra da Estrela. Uma
Serra cheia de necessidade de gentes desenvoltas que a levem em digressão por
todo o lado, mesmo os mais pequenos.
Conhecem a sensação de seguir o caminho dos
outros e depois percorrer a vida sentados?
Isto é que me afronta, ouvir alguém
decretar e os outros a gostar de ouvir mandar. A isso chamo apatia, submissão e
desejo de destruição. É claro que assim acalmam a democracia, é que tanto a
plebe como os eruditos a decoram porque a todos estampa um sorriso. Uns sorriem
porque mandam e os outros porque não acordam.
A voz ilustre levanta-se para que as
ovelhas permaneçam sentadas no caminho trilhado com a argúcia do pastor.
26 de Outubro de 2004, Covilhã, 15:30:56 h.
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