quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Pregado a este mundo – Incompleto Organismo de Heleno Pinhal


Ando disposto em retas com o sorriso a esquivar-se pela perpendicular. Respiro, espirro, sento-me direito, desprego os pés e olho a Serra da Gardunha com o cenário-de-fundo a mudar a mando do vento. Empurra as nuvens com uma lassidão tal que desvio os olhos para o gato pardo de tanto comer. A menina que estuda ao fundo desta esplanada também se preocupa com a aprendizagem. O barman que recolhe a grade de cerveja também se preocupa com a máquina do café.
Nestas tardes, em que a Covilhã pára à espera que as nuvens destapem o sol, gosto de relaxar os ossos nos sítios descolados de transeuntes. A esplanada dos Leões da Floresta está em reparação, por agora só o cimento da cor do cimento assenta nestes quarenta metros quadrados de sol e sombra. As três árvores, que agora são só duas, desenham o chão durante toda a tarde sem que este fique marcado.
A árvore cortada não pode desaparecer ainda, mesmo à minha frente ela já lá não está. Dois cedros sem filhos à mostra defendem agora este chão que gostaria de ver de granito para condizer com as paredes altas e este muro baixo.
Ando por aqui preso a este mundo e de todos os lugares escolho este, certo que daqui para a frente os degraus que vou subir estarão mais firmes para que ninguém neles tropece.
Subir, descer, tomar café e voltar. Ando nisto se bem me lembro para sempre e parece que o globo se amplia desejoso de se mostrar a estes meus olhos redondos. Redondinhos para não pararem nos entalhes das estradas que nos levam para fora.
2005, Março, 30, 15:43:05 h, Leões da Floresta, Covilhã.

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