Um início de tarde primaveril na cidade
vaidosa. Por questões humanas, na altura destes montes, colocam-se vasos por
todo o lado com o planeamento de mês e meio. Uma esplanada com nove vasos
floridos obriga-me a sentar. O que quer? Conversa e mais conversa. Começa por
mostrar como é quente e a única que sem chapéus-de-sol consegue resguardar os
cabelos das suas companhias.
- Vai um café? – Pergunta a esplanada em
tom de gozo.
Durante o tempo de espera a esplanada
permanece calada como que a permitir o seu deslumbre. Chamo-lhe presunçosa,
recebo o café cheiro e peço um cinzeiro.
- Ponha a cinza no chão!
É aqui que ergo a estátua deste dia. Uma
pequena frase dum corpo de empregado foi como abrir das comportas a um dilúvio
apoquentado ou a um touro ensanguentado. Mas o dia está de sol e as touradas
não estão já proibidas?
A esplanada rebola sobre ela própria
enquanto chegam as primeiras peças para a estátua do momento, peças de
qualidade oferecidas pela estultice de Erasmo que aproveita para mostrar o seu
reconhecimento a tal dádiva de boa graça. Os braços têm a cor da maneira que o
garçon já de idade afirmou: “Ponha no Chão!” – disse aquilo rápido, como se
fosse coisa só entre nós. Ponha a cinza no chão, dito daquela maneira faz rir
qualquer fumador mesmo que não goste de cinzeiros.
O tronco do monumento é cedido pelo
contra-senso. Depois de negociações bilaterais para a sua participação
concordou sem garantias que na frase do corpo do empregado ele era o seu
director.
Um crente dessa organização dirigiu-se a
mim com ar devoto e sem cumprimentar a esplanada rogou-me pragas pela cinza que
jogava ao chão, pelos olhares provocados aos transeuntes e pela minha falta de
jeito em esconder tal atitude de engraxe.
28 de Março de 2004
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