Cinco horas da manhã e o relógio dentro do
telemóvel atropela o meu descanso. Abro os olhos e o corpo não sintoniza com
espírito, a nuca oferece resistência em saltar da cama, o aquecedor acende, a
roupa escorrega pelos braços abaixo e as botas pelos pés acima. Às seis horas
atiro-me para fora de casa, o tempo mantém-se agradável e escuro, o comboio
continua parado, o bilhete salta com o troco, o banco de espera da estação
sente-me, as portas abrem automaticamente ao toque do polegar, há muitos lugares
vazios. Seis horas e trinta minutos e desprego para o norte. Uma hora a enlatar
corpos num compartimento cheio de sono. Ao fundo o Metro das sete e trinta e
três sai do Estádio do Dragão, recolhe-me em Campanhã, trinta e quatro minutos
a ensonar, Parque Real, pessoas grandes e pequenas à minha volta, às dez
lanche, não almoço, desporto, vem a tarde com menos gente, às dezasseis horas
assalto o resto do sol. Na paragem um crente atira ilusões religiosas, no
jardim dois miúdos fazem uma fogueira, um fuma o outro puxa assunto. Metro ou
Eléctrico? Vinte e sete minutos de pé a ver entrar gente, Trindade, na estação
dos correios só há embalagens de dez envelopes, loja da conveniência, cartas
para Lisboa, um sem abrigo sobe a rua a tratar mal um polícia, ao cimo duas
meretrizes olham o meu desolhar, Estação de São Bento, a loja de apoio ao
cliente está fechada, aguardo, recolho o passe, preencho uma reclamação e
compro a vinheta de transporte com a Praça da Liberdade em obras. Sento-me numa
escadaria, um aleijado passa ao lado de um casal de namorados aos beijos, os
autocarros param, os prédios altos sobrepõem-se, desço a rua procuro um café e
pago oitenta cêntimos. A vida tem ainda coisas mais importantes.
2006-01-04, Caffé di Roma, Porto, 19:00:17
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