Os pássaros voam ao som de qualquer espingarda, os gatos
soltam sons estridentes ao possuir a sua gatinha e nós também: saltamos da
cama, lavamos os dentes e batemos a porta muito contentes.
Princípios condutuais vulgares em cada um. São hábitos que
fazem rolar uns antes de saltar, outros saltam antes de amar e lavam os dentes
a correr tanto que ficam com os lábios todos em branco.
Na análise do meu comportamento examino com atenção parte
por parte e aplico os seus resultados. Descubro com clareza o comportamento que
me desagrada e avalio o seu atual nível. Três ou quatro vezes ao dia, dez, vinte
ou trinta. Planeio sempre uma intervenção específica com os antecedentes e
consequentes detetados na análise. Ofereço um minuto adicional por cada
problema resolvido.
Anoto num registo todos os resultados e modifico o plano,
modifico tantas vezes quantas as necessárias para compreender e modificar o meu
comportamento.
O fogo só arde com real calor se qualquer das energias se
colar a ele como se cola a gordura das nossas mãos ao limpar qualquer vidro
embaciado. E onde está esse combustível? Como foi descoberto? Quem o observou e
registou? Essa energia prejudica? E os resíduos, os resíduos que sempre saem de
qualquer travagem brusca serão eles que substituem depois os tóxicos tão bem
estudados?
Contesto uma conduta enfadonha e encarniço uma outra mais
bem esclarecida. Elogios azotados, princípios de pasmas, modelamentos por
contágio e práticas de envergonhar. Podemos melhorar o proceder aquelas nuvens
maçadoras que nos encobrem os sentidos do rosto. O elogio é aplicado a seguir à
conduta e após o esclarecimento dos detalhes a reforçar, tudo isto se faz de
uma forma informal. Primeiro o dever, depois o prazer.
Princípios e conveniências saltam a ajudar. Agarro nas atividades
preferidas: sair numa noite pesada, colar os lábios numa bica quente, soltar um
sorriso vezes sem conta a uma pessoa querida e parar, parar por dentro e por
fora nas varandas de uma vida.
As vicissitudes humanas açulam os maus hábitos, costumes
condenados por nós próprios que enrodilham lestamente o pousar firme de
qualquer benfeitor destemido. Empacotado neste corpo quente e sempre com fome
separo o meu gosto do azedo.
Agrada-me sentir o desgaste das pedras, dos milhares de
degraus que pululam esta cidade da Covilhã. Até no parapeito da minha Várzea
Turbulenta encontro covas pantanosas saudadas por gentes saqueadoras de
encontros. Encontro amigos, lacrimejo quando chove e corro ao descer as vielas
com a gravidade a meu lado, a puxar por mim de tal forma que pareço um gato
velho a travar num ladrilho engordurado.
Os costumes
condenados pilham a minha atenção. Obrigações de todos os dias: sentado
disperso os afazeres então o relógio saqueia-me do idílio. Ora fico com a
garganta seca por não me poder deixar estar ou apetece-me desistir, desistir de
cumprir sem cessar o percorrer das normas vigentes nesta cúpula social que me
intriga.
Rascunho isto depois de fazer aquilo. Cumpro com os meus
deveres, deveres que escolhi a querer, o que agora colho é o líquido do esmagar
dos frutos da liberdade passageira. Primeiro o dever, depois o prazer.
No modelamento por contágio reforça-se o progresso em vez de
se esperar a perfeição. Cada pequeno avanço, seja um simples tatear maçador ou
um contestar pertinaz, ao ser detetado em vez de o murchar encarniço-o com a
ajuda da intriga. No plano de tarefas decompõem-se travessias severas em
percursos moderados.
Com persistência, paciência, precisão e rapidez alcanço o
sucesso de viver, é que agora já nunca mais quero morrer, nem sequer faz sofrer
ver um lápis assim a escrever, é que não há mesmo nada a fazer!
Tiro a toalha suja e coloco outra mais lavada. Olha, até
chego a falar alto comigo mesmo sem me mortificar. Acordo com ideias de
corromper, vem o dia enlaçado nos seus sons e imagens e perco os sentidos, quer
dizer eu continuo a sentir, mas é diferente, é mesmo outro apetrecho de mim sei
lá. Então volto a acordar, às vezes até na mesma posição penso as mesmas
coisas, parece que as paredes têm sinais específicos que uniformizam o meu
passado. Ainda bem que o futuro não o decifro assim fica tudo em aberto e
derreto o gelo que quero no calor de todos os meus dias. Por vezes o gelo não
chega e corrijo de pronto essa falta. Tão rápido quanto possível corro para o
congelador como se o meu irmão fosse picado por uma abelha mal enxotada e olhem
que eu sei como ele fica com essas picadas. Se errar na quantidade é meu dever
corrigir antes de inflamar. Apresento as regras e as consequências em
quebrá-las, os erros são admitidos de forma digna e decente. Com letreiros
luminosos recordo hábitos necessários. Observo o meu tempo livre momentos sem
horizonte que se trocam sem cessar, são tão fotogénicas essas hormonas
insatisfeitas.
Caem esfinges de cabeça pelos trovões provocados pelas
minhas engrenagens por olear e oleio-as na certeza de conseguir evitar tal
desfecho acostumado. Indagação, inquéritos e obstáculos. Com o meu dedo
indicador virado para o meu querer tiro à força tudo o que me faz crescer.
As condutas indesejadas aparecem à socapa quase sempre
desejadas. O reforço negativo é gerado por uma qualquer situação aversiva.
Certos comportamentos só são eliminados quando algo angustiante acontece: falta
de dinheiro, saúde ou paciência. A ligação é feita de imediato.
Há um espinho qualquer que perturba o meu andar arranco-o e
o incómodo desaparece.
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