sexta-feira, 10 de maio de 2019

Metade do que sei - corpo de água poesia heleno pinhal


I
revisitar de vez por quando conceitos
esses saberes pelo tempo encobertos
ressentir os esquecidos sentimentos
erguer águas e fertilizar desertos.

nos meus olhos um funil sempre rodado
o campo de visão muda, está louco    
o que é belo fica gigante, ampliado
e o feio menos feio, menos um pouco.

II
pipocas saltam, que singularidade
vestidas de branco, que fofo agasalho
mole e duro em anormal afinidade
como nas folhas os rios do orvalho.    

jogo toda a reflexão num alto muro
e despenteado desperto, ai, rebento  
o tácito dá outra forma ao futuro
quiçá sou eu, apenas eu que o sustento.

III
fixei os olhos e tapei toda a boca
penteei os braços, eliminei o gosto
virei silêncio, pus a cabeça oca
e não é que mesmo assim lêem-me o rosto.

quando estou isolado sou posto em nada
às voltas sou azoto nunca hidrogénio
nesse mundo de gelo caio em cilada
o meu ser regride, falece o meu génio.

IV
nunca compro nem vendo uma experiência
garanto, nem uma, nem duas, nem três
esse negócio só pode dar falência
ninguém sofre, ninguém ama em nossa vez.

rebentos de ciprestes do cemitério                 
germinam cascalho para majestade
ou os professores ou no ministério      
trabalham com pouca criatividade.


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