Tenho um vício pontual de desviar-me das pessoas e só descer as escadas velhas dos Leões da Floresta, arremessar com um café na boca e açoitar o meu corpo com o sol de fim de Outono.
Dois pinheiros decoram esta esplanada livre de transeuntes.
O chão, manchado com as cores das arcadas do São João, combina com a irregularidade dos montes da Gardunha. Já os postes eléctricos alimentam os fios que os ligam em chicote.
Os pássaros, a refastelar a sua melodia, abafam o ruído dos carros incensando o ar e a hora de ponta.
Catorze horas e vinte e três minutos e os pássaros calam-se para mostrar a sua importância.
A tarde preenchida pisa este momento que me aquece.
Não vás ainda. Recebe este calor fumegante. Observa as folhas no chão e memoriza os três gatos displicentes.
A serra da carpintaria intrometeu-se neste santuário ateu, e eu, desconfiado do passar do tempo, olho as horas, descruzo as pernas, aperto o casaco e deixo-me estar, a garatujar sem pensar.
19 de novembro de 2004, Covilhã, Leões da Floresta
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