quinta-feira, 9 de maio de 2019

Privação - corpo de água poesia heleno pinhal


uma sirene dispara
ou toca vinda do nada
um som cara à cara
com uma face de espada.

a fome chama-me certa
de duas em duas horas
e na cozinha deserta
apetite sem melhoras.

calmo, vazio e vencido
numa desdenhosa mesa
bolor no pão corrompido
e um prato que nada pesa.

cor de preto na carteira
almoço o pão sem conteúdo
com chá de erva-cidreira
a cismar só, cismar tudo.

notei a necessidade
desencanto de não ter
artificial  humildade
ser humano sem o ser.

este evento é pura  sorte
casa várzea turbulenta
um fado que de tão forte
me atesta, testa e alenta.

uma válvula suicida
dentro de mim age em guarda
por enquanto recolhida
salta de mim não tarda.

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