sábado, 12 de janeiro de 2019

Práticas Indoutas – Incompleto Organismo de Heleno Pinhal


Nódoas que caem na gente, vozes aturdidas pela visão que salpica à sua volta, enfastia, degola e besunta as bordas das chávenas de café que antes molharam os lábios ligados à face. Lábios que sorriem, espirram, falam, estampam os tiques, cospem a areia da praia e soltam fluidos vindos do interior ocupado pelo resto dos órgãos.
Castigo o ar quando o respiro, suprimo o final das frases, projecto os pés cheios de sangue, cultivo as sementes dos frutos que cuspo, mimo os bichos mais pequenos, invejo o Outono, pinto os muros com sombras, memorizo toques e industriosamente ingemino pessoas.
Quero sair de mim e a carne não deixa, mesmo desabafando meiguices trémulas. Simulo a retirada, penso com possessão e já ia longe quando chamei por mim, perplexo com a minha má educação de vadiamente levar comigo a consciência. Vendi-a sem querer, leiloei-a a baixo preço e em troca, orçado com privilégio de um bom gestor, recebi dias de sanidade, que num costume zonzo me levam para fora e para dentro da porta ligada às paredes que habito.
Ainda vou jantar para amanhã salpicar os passos com uma forte emanação.
Covilhã, Jardim, Ti Horácio, 2005, julho 16, 23:08:47 h

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